Oração

“Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo…” (Sto. Agostinho)

No site Origem da Palavra, vemos que a palavra oração vem do latim orare (os – boca; are – ação; or – pronunciar uma fórmula ritual). Inicialmente, assume o sentido de “falar”; posteriormente, “falar em público, discursar”. No Cristianismo, é usado como “falar à divindade”. (www.origemdapalavra.com.br)

Assim, nos dirigimos ao Criador na oração Pai Nosso, pedindo para não nos deixar cair em tentação e, também, para nos livrar do mal. Por sinal, como afirmou Elzio F. Souza, o “Pai Nosso [é a] maior proclamação histórica de igualdade da humanidade”.

Três elementos são importantes para a a eficácia da oração: confiança em Deus, pureza do coração e prática do bem. Esses inclusive são os requisitos para quando a utilizamos com a finalidade de neutralizar a influência dos maus espíritos.

Foi por reconhecer o valor desses elementos, principalmente no que se refere à prática do bem, que os Franciscanos (A Caminho da Luz – Emmanuel), em vez de permanecerem em repouso em seus claustros, meditando, identificaram que a melhor oração “é a do trabalho construtivo, no aperfeiçoamento do mundo e dos corações”.

Em uma das histórias contadas pelo espírito de Yogashririshnam (ou simplesmente Yoguin, que significa “adepto do yoga”), a ideia do trabalho é bem destacada.

O discípulo indaga ao mestre se irá descansar, após ter passado a noite orando depois de um dia cansativo em que atendeu mais de cem pessoas.
– Como? Acabei de ser reabastecido de energias para o trabalho, e seria dispersá-las fosse eu entregar-me a um descanso de que não tenho necessidade. Conheces algum exemplo do Senhor Jesus a respeito?
– Mestre, ele se refazia com a oração e continuava sua tarefa.
– Devemos, portanto, copiar-lhe o exemplo.
Os homens enredam-se com bolsas, contas bancárias, produção, bens materiais, acumulam, acumulam, acumulam, e, afinal, em sua própria perda, mas ainda assim não se dão por satisfeitos nem demonstram cansaço no seu afã. Por que eu haveria de sentir cansaço quando fixei a mente no Divino – a única realidade? Pensa sempre na oração como alimento que mata a fome espiritual da criatura. Se tua meditação não te está alimentando, estejas certo de que há alguma coisa bastante errada com ela ou contigo.

E ainda em uma outra história também destaca o valor do trabalho.

– Quer que eu abandone a oração por uma semana, para dedicar-me em tempo integral aos serviços da casa?
– Sim, filho, escutastes bem. Não tens orado: repetir fórmulas ou emitir gritos silenciosos, não é oração. A mente produz seus enganos e, para descobrir a verdadeira oração, nada melhor que o trabalho. Nele aprenderás que quando a coisa não é executada corretamente, nenhum valor possui.

Chico Xavier reconhecia a eficácia da oração e o suporte que ela pode oferecer às pessoas. Ao completar 40 anos de mediunidade em 1967, ele fez a seguinte solicitação:

Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração (…), para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a Sua infinita misericórdia me traçou.

A oração é um meio através do qual podemos chegar à condição de filhos amados. Por isso, encontramos, entre os ensinos de Jesus, a recomendação de amarmos os nossos inimigos e orarmos pelo que nos perseguem. Feito isso, atingiremos a condição de filhos do Pai que está nos Céus.

A oração não é, como podemos depreender, uma ação passiva. Isso fica claro em Emmanuel (in Caminho, Verdade e Vida), onde ele instrui que, a partir do exemplo do Mestre, percebemos que a tarefa do “aprendiz fiel constitui-se de adoração e trabalho, de oração e esforço próprio.”

É necessário que nos exercitemos na oração, às vezes mesmo à parte. E o Cristo nos dá esse exemplo: “E, despedida a multidão, subiu ao monte a fim de orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só”. (Mt, 14,23)

Embora muitas vezes o afastamento seja necessário, o que se percebe é que a prece e o trabalho são duas características da atividade divina e que não devemos nos encerrar à distância para permanecermos em contemplação absoluta.

A oração ilumina o trabalho, e a ação é como um livro de luz na vida espiritualizada.

Para Emmanuel, é necessário que não nos esqueçamos do monte, localizado em nossos sentimentos mais nobres, a fim de orarmos “à parte”, como o Cristo fez.

É necessário que estejamos atentos, pois descuidos podem nos levar ao desejo de usarmos a oração para resolvermos questões mundanas, apenas por um interesse egoístico. Se percebermos, no Pai Nosso, o único pedido material autorizado pelo Pai é “o pão nosso de cada dia nos dai hoje” (Mt, 6:11). É também uma forma de nos mostrar a necessidade de confiança em Deus.

Yoguin, na historinha a seguir, destaca a preponderância da oração sobre a preocupação com os bens materiais, bem como a importância de confiar no amparo divino.

Os discípulos reuniram-se, preocupados porque o dinheiro que existia para a continuação das obras do ashram estava chegando ao fim, e resolveram comunicar ao mestre o motivo de sua inquietação.
– Prefiro que vos preocupeis com a oração.
– Mas, senhor– adiantou-se um deles –, como pagar os operários?
– Meus filhos, as obras materiais podem ser paralisadas e depois continuadas sem maiores prejuízos. No entanto, não podeis estancar a obra de vossa evolução sem graves danos e retardamentos para vossas almas. Com a oração, estareis com Deus. Ele sempre sabe e proverá, quando julgar necessário.
O maravilhoso da oração é que temos a oportunidade de receber de Jesus opiniões decisivas e profundas, sem nenhum custo para nós. Para tanto, é suficiente que busquemos a oração, o equilíbrio e a quietude.

Mas o que se percebe em toda a parte são pessoas desencantadas com a oração, por não receberem as respostas que tanto desejam. Afinal, o Cristo não prometeu resposta do céu aos que pedissem em seu nome?

Como, naturalmente, o problema não está no Cristo, podemos deduzir que tem algo a ver com o(s) pedido(s) e ou expectativa(s) que temos em relação a ele(s).

Afinal, o que pedimos? Pedimos em nome do Cristo ou das vaidades do mundo? Porquanto, pedir em Seu nome é aceitar Sua vontade sábia e amorosa.

É necessário que observemos a substância de nossas preces e que percebamos como temos pedido. Sem essa reflexão, corremos o risco de nossas preces caírem num vazio criado por nós mesmos.

É necessário também que aprendamos a orar continuamente. A Oração de Jesus (ou Oração do Coração) é uma oração curta que é repetida continuamente como um método para abrir o coração (é a oração que Paulo defende no Novo Testamento). Essa oração é parte da tradição do hesicasmo (“manter silêncio”).

Sobre a importância de uma oração continuada, Yoguin também a destaca em uma de suas histórias.

- Senhor, tenho me esforçado nesse sentido. Não quero apenas inscrever-me numa fileira estatística. A verdadeira religião não é um dado estatístico de seus membros, mas um encontro único, a rendição do ego ao Divino, e isto tenho procurado.
- Não basta, porém, buscar, hás de insistir. Quando Jesus recomendou a oração contínua estava a referir-se a isto. Alguns se contentam com uns poucos fenômenos, mas estes estão sempre no exterior. Podem ser a marca de uma presença, mas não basta qualquer presença. Buscamos a Presença Divina. Sinais não são bastantes, não podemos nos contentar com eles. São indícios, mas os indícios não significam o Encontro. Manter o pensamento, a mente, o corpo voltado para o Divino, é esta a tarefa.

A oração não é algo jogado ao vazio; ela nos permite estabelecer “um intercâmbio de sentimentos e pensamentos, um colóquio [onde alguém pode responder, onde está presente um] outro pensamento, paralelo e sintonizado.” (in Um Destino Seguindo Cristo – Pietro Ubaldi)

Lin Ch’eng Yü afirma que:

A oração é silêncio
E os discursos são vazios.

Elzio F. Souza, citando Vivekananda, ressalta que “todos os bons pensamentos, toda oração converte uma parte daquela energia (energia sexual) em Ojas (energia espiritual) e ajuda a dar-nos poder espiritual”

Concluindo, apresentamos, uma prece encontrada na web e atribuída a indígenas americanos.

Ó! Grande Espírito,
cuja voz ouço nos ventos,
e cuja respiração dá vida ao mundo inteiro
- Ouça-me! -
Estou diante de Você, um de seus filhos.
Eu sou pequeno e fraco.
Preciso de sua força e sabedoria.
Deixe-me andar em beleza e fazer meus olhos sempre contemplar
o pôr do sol vermelho e violeta.
Faça com que minhas mãos respeitem as coisas que Você fez,
meus ouvidos afiados para ouvir sua voz.
Faça-me sábio, para que eu possa conhecer as coisas
que você ensinou ao meu povo.
As lições que você tem escondido em cada folha e pedra.
Busco força, não para ser superior aos meus irmãos,
mas para ser capaz de lutar contra meu maior inimigo,
eu mesmo.
Faça-me sempre pronto a vir até você,
com as mãos limpas e olhos puros
Assim, quando a vida se desvanecer como um pôr do sol desaparece,
meu espírito poderá vir até Você sem nenhuma vergonha. 

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